Amor de bicho - Danuza Leão

A partir do momento em que o filho começa a crescer, os pais, pensando na disciplina e no respeito, perdem a espontaneidade e a liberdade de botá-lo no colo e dizer, despudoradamente, quanto o amam. Um certo distanciamento físico passa a permear as relações, e, quando a gente quer segurar as crianças, elas fogem. Não existe maior comunicação entre as pessoas do que o contato físico. Só assim podemos sentir ou expressar, de verdade, a dor, a amizade, a paixão. Há quem diga que nós precisamos dar (e receber) quatro abraços por dia; aquele abraço bom, apertado, caloroso, não necessariamente de amor. Quantos você deu hoje? Pior: quanto tempo faz que você não dá e não recebe nenhum?
Os adultos apaixonados também não se sentem livres para ficar tocando o ser amado, passando a mão na perna ou brincando com a pontinha da orelha. Talvez para não demonstrar demais seu afeto, talvez porque o outro não goste dessa intimidade, o fato é que a aproximação física só começa, praticamente, na pré-cama. Quem hoje ficaria brincando durante horas, de leve, com a mão do namorado? E o medo de ele achar que a parada está ganha? E o receio de se mostrar apaixonada? É por essa necessidade de dar e receber carinho que muitas pessoas elegem um gatinho: para poder coçar a cabeça e a barriguinha dele e dizer várias vezes “eu te amo de paixão” sem se achar ridículas – quando não há ninguém por perto, claro. Os gatos são tudo o que se pode querer, mas bem abusados: costumam usar nossa mão como travesseiro e ficam dormindo de pernas para o ar, enquanto nós, babacas apaixonadas, não nos movemos para não perturbar o sono deles. E muito folgados: se estiverem brincando e a gente chamar, não estão nem aí (mas a gente os ama assim mesmo). O escultor Giacometti (Alberto Giacometti, suíço) disse uma vez que entre salvar a vida de um só gato ou todas as obras de arte do mundo inteiro, ele salvaria a vida do gato. Eu espero nunca ter que fazer essa opção.